quarta-feira, 17 de agosto de 2011

incesto não dito

O silêncio daquele triângulo amoroso incestuoso foi se tornando cada vez mais barulhento. A filha gritava, a mulher sentia um tumulto no peito. A mulher não teve opção além de sair da casa que virou da filha: a filha então tornou-se mulher e a mulher, amante.

Para a amante dizia não aguentar mais a mulher, mas com esta agia normalmente apesar dos crescentes conflitos em sua casa. Quando ia visitar a amante, esta comentava:
-Que marca de batom é essa, aí perto do teu pescoço? Você não disse que as coisas não iam bem?
Ele, nervoso, dizia não saber como aquilo aconteceu.

O barulho tornou-se insuportável. Ambas gritavam em seu ouvido, uma de cada lado enquanto ele, fugindo da vergonha que aquilo se tornara, se consumia em culpa, impotência e um tesão que custava ser contido. A amante, percebendo que nunca poderia exercer o papel de mulher que lhe cabia e a mulher, percebendo que nunca poderia se apossar de seu direito de ser filha foram embora.

Ele ficou em silêncio, com o coração partido, mas a salvo ter sabido o que foi tudo aquilo: o não interdito.


*'O pai que aceita a interdição do incesto, perde uma
relação privilegiada com a filha; o que ele ganha é que a filha terá uma criança
e ele será avô.'

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