quinta-feira, 28 de outubro de 2010

mulher espelho

E ela concluiu:
-...e é assim que eu vejo a questão.
-Entendo.
-Além do mais sou apaixonada por tudo isso!
-Imagino.
-Leio muito sobre esses temas, acho importante.
-Sim...
-E você, o que acha?
-Não entendo, mas se serve pra você está bom.


Caminharam em silencio. Apesar de ainda não ter tomado consciência, se sentia ridícula. Como uma casca vazia, já que aquilo que animava seu mundo interno perdia a realidade diante da reação indiferente do homem a quem amava. Mas por sorte ou talvez por não querer ver, ela não sabia de nada disso, só sabia daquele corpo cujas delicias ela conhecia, andando ao seu lado.

-Você me dá muito tesão - ela disse.
Se sentindo duas vezes do tamanho que de fato tinha, ele olhou-a com ternura:
- Você é maravilhosa! Mas que mulher!
Ela sorriu e baixou os olhos timidamente.
-E não é só bonita, gosto de você porque além disso é inteligente e criativa...

Ela sentiu um estranhamento que não entendia. Sentia-se vivendo em um mundo imenso, atrás de um espelho. Ele olhava para ela mas ela sentia que ele não a via. Pararam por um instante e se abraçaram. Ela ficou entregue à sua própria amplidão, abraçando-o com ternura e sentindo com isso uma mistura incompreensível e intensa de saudades, melancolia e felicidade.


Virginia Woolf já falava que 'as mulheres, durante séculos, serviram de espelho aos homens por possuírem o poder mágico e delicioso de refletirem uma imagem do homem duas vezes maior que a natural'. O que ela esqueceu de dizer é que, vendo-as como espelhos, os homens tomam consciência da vida e da magnificência de uma mulher unicamente enquanto esta estiver cumprindo o papel de refletir.

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